Você ouve música não-evangélica?

POR: GUILHERME P PINHEIRO
imagem extraída de: danvizi.wordpress.com

O que faz uma música evangélica ou "gospel'? A palavra gospel significa: "evangelho". Também utilizada para designar o estilo de música de alguns cultos religiosos, da comunidade negra norte-americana. Surge então uma questão: Toda música evangélica é a Palavra de Deus? Toda música gospel serve ou presta para louvar a Deus e produzir em nós santidade? 
Evidentemente que não, pois hoje, existe muita porcaria por ai denominada "gospel". São músicas sem riqueza poética ou teológica. Acerca desse assunto, Ricardo Gondim vai dizer:

"Muitas vezes somos impedidos de ouvir muitas músicas populares devido aos nossos preconceitos. Por outro lado, o oposto também é verdadeiro. Consumimos muito lixo, porque nos foi imposto com uma roupagem evangélica. Devido ao simples fato de uma música falar em Deus, abordar temas sobre a dimensão sobrenatural não significa necessariamente que aquela música seja sacra ou evangélica. Conheço muitas músicas que são pobres em seus conteúdos doutrinários, eivadas de erros de português, compostas por impulsos meramente comerciais. Será que poderíamos classificá-las como sagradas? A próxima pergunta seria: Uma pessoa não-convertida pode produzir o que for nobre, que leve à reflexão, divirta ou edifique? A resposta obviamente é sim. Um erudito como Rui Barbosa, embora nunca tenha feito parte de uma igreja evangélica, escreveu artigos e ensaios sobre o direito e a cidadania tão dignos que servem de ilustração, inclusive, para um sermão. Um estadista, como Winston Churchil pôde nos brindar com um discurso tão verdadeiro,que todos, inclusive os pastores, devem aplaudir. Um poeta como Carlos Drummond de Andrade, embora um ateu professo, deixou-nos um legado poético espetacular. A teologia da queda não propõe que os descendentes de Adão sejam incapazes de boas ações. A alienação do pecado não anula completamente a imagem de Deus nos homens. Todos os seres humanos, mesmo os mais vis, ainda carregam traços do Criador".

Isso nos remete a vermos pessoas como Raabe, que ajudou os espias em Jericó, Ciro, o rei da Pérsia, foi usado como instrumento de Deus, o bom samaritano no caminho entre Jerusalém e Jerico.  Cristo afirma que os filhos das trevas são, muitas vezes, mais sábios que os filhos da luz (Lc 16:8). 
Um artista é capaz de pintar, compor, escrever ou esculpir obras de arte mesmo sem ter se submetido ao senhorio de Cristo. Gondim vai continuar afirmando que:

"Na história da humanidade houve grandes compositores que escreveram e nos encantaram com peças belíssimas. Muitos deles não eram cristãos convertidos. Mozart, Tchaikovsky, Beethoven, dotados de um gênio musical ímpar, não possuíam uma vida consagrada a Deus. A imagem do Criador neles é que transbordava em excelência musical. Michelangelo, Rodin, e tantos outros escultores conseguiram dar vida e significado às pedras brutas de mármore, metais contorcidos e blocos de granito, porque a "Graça Comum" habilitava-os. Arquitetos, romancistas, decoradores, pintores e tantos outros homens e mulheres presenteiam-nos constantemente com suas obras de arte, porque Deus faz com que sua graça seja derramada tanto sobre os justos como sobre os injustos".

Quando alguém diz que não ouve "música do mundo", está afirmando que não reconhece nenhuma pessoa, a não ser os convertidos, com capacidade de produzir uma música louvável. Isso é ignorância.  O apóstolo Paulo que foi educado por Gamaliel,  citou poetas e filósofos pagãos em seus escritos (At 17.28, 1Co15.33, Tt 1.12).
Fernando Pessoa foi o maior poeta da língua portuguesa. Suas poesias expressam sentimentos, angústias e perplexidades. Ele foi genial. Sem nunca professar fé em Deus, fez um poema sensacional acerca da existência do Criador e seu filho Jesus que você pode ler aqui.
Cecília Meireles escreveu uma poesia sobre Deus com uma sensibilidade impressionante; novamente os lampejos da imagem de Deus e da graça comum são percebidos nos versos bem alinhados de sua obra:

Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder
de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não o entender.
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
o escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus,
que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.

A Bíblia contém dois livros poéticos chamados Ester e Cantares, onde Deus  não é mencionado, mas deixa sua presença implícita. Em Ester Deus é engrandecido por agir em favor de seu povo e Cantares de Salomão? Embora haja um esforço muito grande de espiritualizar o livro de Cantares querendo que ele signifique o relacionamento de Deus com o seu povo, ou de Cristo com a Igreja, sua verdadeira intenção é celebrar o amor de um homem com uma mulher, (marido e esposa) e seu relacionamento conjugal, principalmente o sexual.
Temos também Provérbios de Salomão onde muitos de seus conselhos, tratam de nossos deveres, nossos relacionamentos, nosso cotidiano, etc. 
O pastor Ricardo Gondim diz que:

"Não há diferença entre o tema central de Cantares de Salomão e uma letra de música que Chico Buarque de Holanda escreveu para a Carolina. Dessa forma, chegamos à doce conclusão de que toda produção literária - romance, poesia, crônica, contos, etc. - é válida. Independente de quem as escreveu. Caso seus conteúdos forem dignos, elas devem ser consumidas por todos, inclusive os crentes. Há músicas que enaltecem a natureza, outras que celebram o amor, outras que indagam sobre o sentido da vida. Há aquelas que lamentam um amor não correspondido, muitas que enaltecem uma musa ou um herói. Há músicas que glorificam a Deus, incentivam a oração, evangelizam, promovem o amor dos irmãos. Algumas, também, festejam a queda dos inimigos. Todas são válidas para o propósito que foram escritas e fazem sentido quando se restringem ao seu ambiente propício".

Portanto, só existe dois tipos de música; a música boa, e a música ruim.  Que Deus abençoe em nome de Jesus

CITAÇÕES RETIRADAS DE:

GONDIM, Ricardo. É Proibido, p. 46, 87, 90 e 92. São Paulo, Mundo Cristão, 1999.

MEIRELES, Cecilia. Poesia Completa - Dispersos (1918-1964). São Paulo, Loyola, 2010.


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